Visita de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola ocorre numa altura em que a economia angolana apresenta melhorias. À DW África, analista diz que investidores estão satisfeitos com "sinais" dados por João Lourenço.O Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, está em Angola para uma visita oficial de quatro dias, que termina no próximo sábado, dia 9 de março. No Palácio Presidencial, em Luanda, e após a reunião com o chefe de Estado português, o Presidente angolano João Lourenço afirmou que os dois países assinaram já, desde setembro, 35 instrumentos de cooperação. Um deles referente à regularização das dívidas de Angola a empresas portuguesas, considerado por muitos um tema sensível. Mas não para João Lourenço, que afirmou que esta não é uma "questão tabu" e que garantiu que, "desde que [a dívida] seja certificada, o devedor assume o compromisso de pagar". Por seu lado, Marcelo Rebelo de Sousa classificou como "excelentes" as atuais relações entre os dois países, dizendo que esta é uma "parceria segura”, capaz de "enfrentar todos os imponderáveis da vida económica, social, financeira e política mundial". A visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola acontece numa altura em que a economia angolana, em recessão desde 2016, por causa da queda do preço do petróleo, apresenta melhorias. Isso mesmo confirmou, em entrevista à DW África, Tiago Dionísio, economista-chefe da consultora Eaglestone, que afirma que "o sinal que João Lourenço tem dado, desde que tomou posse, é bastante positivo". O analista diz ainda que o "acordo com o FMI é "francamente positivo aos olhos dos investidores, porque quer dizer que Angola vai continuar a fazer esforços para melhorar a sua economia". DW África: No âmbito da visita de Marcelo Rebelo de Sousa a Angola, o secretário de Estado da Economia angolano assegurou que os investidores poderão encontrar no país um "bom ambiente de negócios". Concorda? O ambiente de negócios melhorou efetivamente com a chegada de João Lourenço? Tiago Dionísio (TD): Acredito que sim, o Presidente João Lourenço e o seu Governo, desde que tomaram posse, têm tido uma particular atenção às questões relacionadas com a corrupção e também com a governance das empresas públicas, e isso tem sido visto com muito bons olhos pelos investidores internacionais, que começam a olhar para Angola de uma maneira diferente. O aumento da transparência é muito importante para qualquer investidor que queira investir num país. DW África: Será ainda prematuro dizer que as reformas levadas a cabo por João Lourenço, como por exemplo, as alterações à legislação do investimento estrangeiro em Angola, estão já a ter reflexo no país? TD: Estas medidas demoram algum tempo a fazer efeito. Este tipo de políticas não produz resultados de um dia para o outro. O sinal que João Lourenço tem dado, desde que tomou posse, é bastante positivo, e acho que esses efeitos deverão continuar a ser evidenciados ao longo deste e dos próximos anos. DW África: O que é que ainda tem de melhorar no país para que se torne apetecível aos olhos dos investidores? TD: O facto de Angola ter assinado, no final de 2018, um acordo de três anos com o FMI [Fundo Monetário Internacional] é positivo aos olhos dos investidores internacionais. Quer dizer que Angola vai continuar a fazer um esforço, em parceria com o FMI, para melhorar a situação económica, e também outros setores. O setor da banca é um deles. Há muito tempo que andamos a defender que o número de bancos em Angola é elevado. Nos últimos meses, alguns desses bancos encerraram as suas portas. Agora, uma das medidas do programa do FMI é melhorar a estabilidade do setor financeiro no país. Isto vai passar, por exemplo, pela revisão aos balanços dos bancos locais, portanto, à qualidade dos ativos, o que poderá levar a que alguns bancos tenham que fechar. Acreditamos que o número de bancos em Angola, que neste momento se situa em torno de 26 ou 27, possa ser reduzido ao longo do corrente ano. DW África: No geral, ainda é considerado um risco investir em Angola? O que esperar dos próximos anos? Serão com certeza anos mais positivos... TD: Acredito que sim. 2019 e 2020 deverão ser anos mais positivos. Acreditamos que o crescimento do PIB [Produto Interno Bruto] seja positivo. Na sua última previsão sobre Angola, o FMI disse esperar que a atividade económica cresça 2,5% este ano e acima de 3% nos próximos dois anos. Isso fará com que o sentimento dos investidores estrangeiros melhore também. DW África: João Lourenço anunciou esta semana a sua recandidatura à presidência de Angola em 2022. Este anúncio pode ser considerado uma segurança para os investidores ainda indecisos? TD: Creio que sim. Quando uma empresa faz um investimento é importante que haja alguma estabilidade, um rumo a seguir. E o facto do atual Presidente ter anunciado que se vai recandidatar reduz um pouco o risco político dos investimentos em Angola. Significa que as políticas que estão a ser implementadas, neste momento, deverão continuar nos próximos anos. DW África: Os escândalos de corrupção que envolviam Angola, frequentemente, estavam de facto a "afugentar" o investimento estrangeiro do país? TD: Creio que eram várias questões. Também o facto dos investidores internacionais terem evidenciado uma maior apetência para os mercados emergentes e o facto do setor petrolífero também ter tido anos muito complicados. Acho que a comunidade internacional também vai estar muito atenta à capacidade do Governo de dar a volta à economia. É importante que os dados económicos, a partir de 2019, sejam mais positivos e que, de facto, a atividade no país possa crescer no sentido de melhorar também as condições de vida da população local.
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